Hoje sinto na pele a dor de no momento da pandemia não ter a honra de me despedir de quem amo...

Hoje foi uma manhã dura, uma manhã que me fez levar uma daquelas chapadas fortes, uma chapada que me fez perceber que esta pandemia está a tirar-me a honra de velar os meus, de lhes prestar homenagem, de lhes dar um último beijo e de apenas fazer uma despedida digna....

Perdi hoje o meu querido tio Orlando, irmão da minha avó materna, o meu tio foi sempre muito mais que isso, foi aquele que no momento da separação dos meus pais sempre soube respeitar a minha mãe da forma mais bonita, nunca se esqueceu que éramos seus sobrinhos, sempre nos acolheu da melhor forma em sua casa, sempre teve um colo, um abraço, um carinho....

Foi toda a sua vida um homem digno, um homem humilde e um homem de boa índole, era um homem que apaixonava todos aqueles que o rodeavam, dava gosto a sua presença fosse em que circunstância fosse....!!!

Lembro-me uma vez que o meu primo Pedro Vicente que estava nos amadores de Vila Franca justamente com o meu irmão ter se lesionado numa corrida e ter feito um traumatismo craniano, ele teve alta mas só com a indicação de alguém o vigiar, foi aí que a minha mãe como enfermeira o levou para nossa casa, a minha mãe contactou o meu tio Orlando para não preocupar a minha tia Isabel e lembro-me de o meu tio ter dito para ela “Elvirinha obrigada por toda a dedicação ao meu filho”,  mesmo separados os meus pais, a minha mãe nunca deixou de ser a sobrinha do meu tio, mesmo não sendo do seu sangue, mesmo já não estando com o meu pai.... o meu tio era assim, o amor estava sempre bem vincado, bem explícito em tudo o que fazia parte da sua vida e de todos aqueles que tinham a honra de fazer parte de si!

Em dia de corrida no domingo de colete encarnado quem o queria ver era na bancada da palha Blanco, juntamente com aqueles que fizeram sempre parte da sua vida e com aqueles a quem chamou de família... os CAMPINOS.

Vestia o traje como ninguém, tinha elegância, tinha orgulho naquele manto que era tão seu, que era tão sagrado.

Corajoso desde sempre, destemido, valente e um homem de H grande, esse era e será sempre o meu tio Orlando.

Hoje devido a esta pandemia não poderei me despedir dele como ele merece, não terá a homenagem que só os grandes merecem, é uma dor filha da mãe, é uma revolta sem medida.

Hoje é ainda mais sentir que este vírus mudou a nossa vida por completo onde os nossos são sepultados no vazio, no silêncio, na solidão física.

Comecem agora a perceber porque é tão importante ficarem em casa, pessoas como o meu tio não merecem ser sepultadas desta forma, pessoas como eu e a minha família não merecem ficar privados de dizer adeus, de prestar a devida homenagem a quem amamos e a quem sempre deu de si para cada um de nós.

A ti meu querido tio muito obrigada por me teres mostrado também o significado da palavra amor, da palavra união, respeito e humildade....

Vais ser sempre lembrado, homenageado por todos nós, serás sempre um daqueles valentes importantes que passou e marcou a história dos toiros, que hoje o traje negro seja vestido por todos os campinos, porque  a aficion está de luto, perdeu um dos grandes, perdeu um dos sérios, perdeu um dos bons...

Desculpa meu tio por a tua última homenagem não ser como mereces mas estou certa que a seu tempo todos nós te poderemos homenagear de forma digna.

Descansa em paz e aí de cima envia a tua maior força principalmente para a minha tia Isabel que neste momento irá precisar tanto.

Obrigada por me teres amado, obrigada por me teres dado a honra de te chamar tio e de pertencer à tua família ❤️

Amo-te muito e irei amar sempre, um beijinho da tua Larinha e dá um beijinho grande aos meus pais🌟